Livro O Jardineiro Que Tinha Fé


Nos últimos tempos, uma das coisas que me fazia falta era me surpreender com um bom livro. Com o advento da tecnologia móvel, aumentou a oferta e o acesso a conteúdos, muitas vezes superficiais - assim como passou a ser, em geral, nossa forma de ler. De tal forma que retomei com força o antigo hábito de ler em papel. Alguns livros, como num sopro, ganham vida quando os tocamos e também despertam algo dentro de nós.

Tenho um ritual pessoal para a leitura: me apraz escolher um lugar confortável e silencioso, pegar um exemplar com as duas mãos, tocar sua capa, sentir seu peso, a textura do papel quando passo os dedos, cheirar, ler as orelhas, folha de rosto, apreciar ornamentos e detalhes da capa, imaginar o que levou o designer gráfico a desenhá-la de tal forma, para então iniciar a leitura. Sim! Porque a experiência da leitura de um livro de papel, para mim, é muito superior à digital.

O primeiro presente que ganhei de meu pai foi um livro. Por muitos anos ele foi vendedor e foi isso que sustentou nossa família – financeiramente e intelectualmente. Eu tinha muitos à disposição, didáticos, de história, e passava horas devorando-os. Vender livros com meu pai também foi meu primeiro emprego. Muito provável que por tudo isso comecei a escrever poesia aos 15 anos e posteriormente me formei jornalista.

Eu amo histórias! Quando bem contadas, elas me transportam para outro lugar, onde as demandas cotidianas não podem entrar, me levam a refletir profundamente, me emocionam, ativam sensibilidade e criatividade de uma forma potente. Alimentam minha energia vital.

É por isso que me identifico tanto com as publicações da Dra. Clarissa Pinkola Estés, psicanalista junguiana, especialista em pós-trauma e poeta, que nos revela o potencial das histórias de uma forma quase mágica. Além da história em si e de sua moral, o processo de contá-la ou conhecê-la já é uma ferramenta incrível.

Seu livro mais famoso, Mulheres Que Correm Com Os Lobos, fala muito sobre isso por meio de fábulas clássicas contadas ao redor de todo o mundo desde tempos imemoriais e interpretadas pela autora sob a perspectiva da psique feminina. Mas, hoje, quero indicar a leitura d’O Jardineiro Que Tinha Fé – Uma Fábula Sobre O Que Não Pode Morrer Nunca, um livro fininho e despretensioso, cuja história é contada a partir do olhar de uma criança.



De maneira delicada e envolvente, Clarissa nos apresenta o inefável da vida. Mal sabia eu que, quando adquiri esse volume, encontraria respostas para questionamentos que vim me fazendo nos últimos anos: da importância de abrir espaços na vida. Inclusive, o nome desse blog mudou há algum tempo para aventar o exercício dessa indagação. (Vide postagens anteriores.)

Esse livro me fez soluçar loucamente em suas páginas finais. Sem exageros. Despertou em mim aquele olhar doce e pausado que eu tinha pela vida quando era garota, um sentimento de que, não importa o que aconteça, a vida pode ser e é maravilhosa. Mal posso conter as lágrimas que querem saltar da linha d’água ao escrever isso. E não há palavras suficientes para exprimir o que já foi expresso por Clarissa nesse livro. Qualquer tentativa de resenha está aquém da beleza que a história nos oferta com tanta ternura e generosidade.

O Jardineiro Que Tinha Fé – Uma Fábula Sobre O Que Não Pode Morrer Nunca
Clarissa Pinkola Estés
Editora Rocco
Ano 1995



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

De-sa-ba-fo

Presença