Às vezes eu me repreendo porque penso que posso estar reclamando de barriga cheia, sendo injusta, sabe. Mas depois eu paro e penso que tenho o direito de me sentir assim e dou vazão ao sentimento. Aí minha cabeça fica toda embaraçada feito macarronada e vem o colapso. Fico sem ação, choro, me prostro. É como um ciclo, saca? Não tem fim. Não vou narrar o meu dia. Não vou contar tudo o que deveria ser e não foi. Tudo que não deu certo. Mas vou dizer que queria muito colocar meu pijama, me internar por um dia, apenas um, porém inteiro, em minha cama e chorar até adormecer, cansada. Como cantou Morrissey, "Just another false alarm... The story is old - I know, but it goes on". Essa música tem uma abertura tão cortante, tão dolorida, que é a única que eu poderia escutar no momento. Tem tantas coisas que eu queria dizer, fazer... Mas a cabeça dói demais, demais! E a vista fica flou, a vida fica flou...
A arte de colher pedras preciosas
Às vezes precisamos de pessoas assim, que nos façam sentir a frescura do ar e o perfume das flores. De meninas tão leves e doces que venham com pedrinhas nas mãos - dizendo ser preciosas. De um chocalho, umas penas, alegrias e tendas. De colares, colores, olhares, manjares. Eu vi a luz hoje e me encantei como antes. Eu vi o azul da saia e a vida em avenidas e esquinas. Eu vi hoje a placa na rua que dizia "precisa-se de felicidade". E eu não escolhi o caminho da saudade. Nos pés, os chinelos batidos com pedrinhas brilhantes. Na bolsa, toda esperança querendo saltar pelas bordas. Eu vi o verde e meus olhos sentiram a falta da mãe. Do sal d'água que fica na pele e do sol queimando os cabelos na praia aberta. Sinto falta da saia rodada e dos panos enrolados no corpo. Sinto falta d'água na pele e o refresco d'alma. Veio o verão e já era tarde o pó de gelo abandonou os vidros da janela do quarto. Quero meu copo de gelo, com limão por favor.
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