Eu me fecho no quarto e me embriago e fumo e ouço os sons mais tristes pra lacerar a dor e tentar dormir sob o cansaço. Eu canto alto o que na voz dela é mágoa e absurdo, mas acontece, eu garanto. Eu desperdiço tempo e dinheiro por causa de você, garoto. Por que eu não posso te deixar assim, nesse meio de vida louco e poeirento, sem minha mão pra te segurar. E mesmo que você recuse, eu ainda estarei lá, na soleira da porta, te esperando. Te amando. Ainda que te odeie ou sinta pena. Ainda que te ame mais que a mim, às vezes. Nem sempre é assim. Apenas quando tudo cai naquele vórtice e, massivo, o horror se expande em meu peito sofrido. Sei que parece muita tristeza para suportar, mas com você por perto eu sou muito feliz, eu te faço feliz. Se você quiser...
A arte de colher pedras preciosas
Às vezes precisamos de pessoas assim, que nos façam sentir a frescura do ar e o perfume das flores. De meninas tão leves e doces que venham com pedrinhas nas mãos - dizendo ser preciosas. De um chocalho, umas penas, alegrias e tendas. De colares, colores, olhares, manjares. Eu vi a luz hoje e me encantei como antes. Eu vi o azul da saia e a vida em avenidas e esquinas. Eu vi hoje a placa na rua que dizia "precisa-se de felicidade". E eu não escolhi o caminho da saudade. Nos pés, os chinelos batidos com pedrinhas brilhantes. Na bolsa, toda esperança querendo saltar pelas bordas. Eu vi o verde e meus olhos sentiram a falta da mãe. Do sal d'água que fica na pele e do sol queimando os cabelos na praia aberta. Sinto falta da saia rodada e dos panos enrolados no corpo. Sinto falta d'água na pele e o refresco d'alma. Veio o verão e já era tarde o pó de gelo abandonou os vidros da janela do quarto. Quero meu copo de gelo, com limão por favor.
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