Há um grande vazio nesta couraça. Oca. Inóspita. No máximo invadida momentaneamente pelo fumarento cigarro que desgastou entre os dedos, há muito pouco, no Vale do Anhangabaú. Esfumaçando os pensamentos que se dispersavam numa angústia inefável e abrasiva. Agora, diante da tela lúcida de um computador, divido meu tempo entre trabalhar e amordaçar a dor. O copo d'água em cima da mesa transpira, faz transpassar seu conteúdo, assim como permito que os nervos aflorem em trêmulos gestos nos dedos e no olhar incontido. A calma que encomendei não chegou e não consigo raciocinar. Um misto de inquietação e incapacidade de dar continuidade ao que quer que seja bloqueia os ouvidos e a sala explodindo em verborrágica onda me incomoda. Mal saem essas letras, misturadas ao suor dos dedos que teimam digitar errado. Um grito mudo ecoa nesse vazio todo. Não vejo a hora de sair e fumar mais um cigarro: minha dispersão.
De-sa-ba-fo
Eu tenho uma condição de saúde rara parcialmente identificada que me causa incontáveis problemas de saúde. O fato de eu estar bem, sorrindo alegre e confiante em um dia e em outro péssima, ausente, irritada e deprimida, é um reflexo disso. Essa mudança é brusca para quem vê de fora, para mim é normal. Sempre ouvi: "Nossa, você está sempre doente." "Seu humor muda do nada, o que acontece?" "Você precisa se controlar/ deixar de ser assim/ ter mais fé/ se cuidar/ reclamar menos, não ficar falando sobre essas coisas negativas etc. etc." Eu fiz muita terapia para chegar aqui nessa mensagem e dizer tudo isso. Eu agradeço a quem se preocupa e me contata perguntando como estou, se melhorei, me deseja melhoras. Mas, o fato, é que eu não tenho perspectiva de melhora e confesso que me angustia não ter uma resposta simples ou positiva para dar. E eu cansei de tentar disfarçar meu mal estar, como se nada estivesse acontecendo. Porque cada vez que me perguntam co
Comentários