Somos miseráveis?

O argumento de muita gente para não comprar orgânicos é que "são caros" ou "mais caros em relação aos não orgânicos". É fato que o valor entre um e outro é diferente, mas o produto em si também é diferente: um tem veneno, o outro não.

Fiquei pensando a respeito desse argumento e cheguei à conclusão de que, se não temos dinheiro para comprar alimentos de qualidade, que não sejam envenenados, então somos miseráveis. Alimento, gente, uma das coisas essenciais na vida de qualquer ser humano.

Preciso deixar claro que me refiro nesse texto à classe de pessoas que tem o smartphone do momento, que paga caro pra comer e beber "gourmet". Para essa classe, a questão não me parece ser falta de dinheiro, mas opção: investir o dinheiro em uma rodada de cerveja "top" no fim de semana ok, mas comprar aquela cenoura orgânica não, porque é "mais cara". Compra-se a mais barata, afinal, é tudo cenoura...

Não é.

Orgânicos vão muito além de se preocupar somente com a própria saúde. É um efeito borboleta. Pensar que está pagando barato por uma cenoura é pura ilusão, falta de informação. Uma cenoura não orgânica custa não só a saúde de quem a consome, mas de quem produz e está em contato com produtos tóxicos, custa recursos naturais, como água e terra, que são poluídos e por aí vai... Tem a ver com condições de trabalho mais humanas, com comércio justo.

Os orgânicos são apenas um exemplo. Podemos acompanhar em muitas outras áreas como os processos atuais são devastadores. A escravidão na indústria da moda é outro exemplo. Pensando mais além, por que tanta gente está infeliz com seus trabalhos? Pense no setor em que trabalha. Há corrupção? Escravidão, más condições de trabalho, injustiças...? Fazemos parte do processo, somos apenas uma engrenagem, mas quando uma engrenagem muda, todo o sistema começa a se comportar de forma diferente. Ainda que sejam pequenas, as mudanças são inexoráveis para o sistema não entrar em colapso.

"Ah, mas eu sou uma gota no oceano, não vou conseguir mudar nada sozinho; o problema está no sistema"... ALÔ, NÓS SOMOS O SISTEMA. Ele não é uma entidade autônoma, sobrenatural. Se grandes pessoas da história, gênios da física e tal tivessem pensado assim, não estaríamos estudando sobre eles e nem nos beneficiando de suas descobertas. Uma das coisas que as grandes pessoas têm em comum (eu aposto!) chama-se inquietação. Quando passamos a questionar, observar, refletir e testar coisas boas acontecem.

Voltando à questão financeira... Somos mesmo miseráveis? Eu acho que só se for de espírito - o que considero mais grave. O dinheiro (ou a falta dele) é uma desculpa muito confortável para não se mexer e continuar sendo apenas mais uma engrenagem num sistema cada vez mais falido. Esse tipo de pensamento/comportamento é o que leva muita gente a passar a vida "apertando parafuso" e se sentindo infeliz ao acordar pela manhã para ir trabalhar.

Recomendações de documentários para quem quer refletir mais sobre tudo isso e um filme clássico:

O Veneno Está na Mesa


O Veneno Está na Mesa II


Tempos Modernos


Comentários

Unknown disse…
já usei esse mesmo argumento: é caro. confesso, às vezes ainda uso. mas também já cheguei à mesma conclusão: caro é colocar um alimento no nosso corpo que não possui todos os nturientes, todas as suas características, todos os seus poderes. e em vez disso, colocar veneno.

não ter saúde, isso sim é caro. não cuidar de nós é caro. por isso, agora tento fazer outro tipo de escolhas e se tiver que cortar noutras coisas, eu corto sim para poder investir no que é realmente importante.

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