Solto os laços da inquietação e meus braços abraçam seu corpo tão ausente. Grudo meu rosto no seu peito e fecho os olhos, tentando me encontrar. Do outro lado da calçada vejo você e eu, e meus pensamentos convertidos na fumaça espessa do cigarro tentam formar algum juízo. Abro a boca e esvazio os pulmões. Desalento. Como é triste me ver assim, tão entregue ao acaso. Ali, costurada à sua roupa. Entrelaçada em suas pernas.
Deixo meu corpo de lado e vou caminhar. Mais um cigarro. Eu os odeio, mas eles me ajudam a suportar a dor. É como autoflagelo, te olhar e dar uma baforada. Sentada na grama do parque percebo que sou a personificação da infelicidade. Que todos sorriem a minha volta. Então, após romper com o desespero e dar as mãos à solidão, novamente me sinto confortável. Ela não me cega, ela me entende. Tiro os sapatos e enfio os pés na terra – inicia-se a longa jornada. Ando por aí, garrafa na mão e um grito quase surdo de quem não sabe como espantar essas sensações impertinentes.
Estou sempre nos limiares, entre o submundo nojento e pérfido e a ingênua ternura dos que expulsei a vassouradas. Da minha lama tiro o alimento para as noites frias e longas. Minha tristeza está guardada em barris de carvalho, que é para conservar melhor seu teor pastoso e decadente. Mas o fim corre até mim, numa tosse histérica que faria descolar a pleura dos pulmões.

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