Na sua loucura, ele viveu e morreu. Na intensidade, na paixão e na agonia. No tesão pela imundície da vida. O poeta sempre é louco. Quem não é (ao menos um pouco) não cria com profundidade. Minhas criações são alimentadas por esse resto de vida. Pela pastosa dor. Pela solidão que jorra da calha de casa e entra pelas frestas da porta. Meus medos eu deixei em conserva - como compota. As dores eu espalho calmamente pela pele, como pomada. Na esperança de que penetrem e sejam dissolvidas pelo organismo. Essa solidão é que me maltrata. Me tranco no quarto todas as noites e me encolho na cama, enquanto ela arranha as paredes do corredor, lá fora... Não há outro meio de extirpar as raízes dessa condição, senão escrevendo. Cuspindo insanidades, ficções e verdades. Continuo, como sempre, com meus monstros grudados à barra da calça, se arrastando enquanto tento chegar a algum lugar. Eu peço, todos os dias, para que esse mal me deixe...
A arte de colher pedras preciosas
Às vezes precisamos de pessoas assim, que nos façam sentir a frescura do ar e o perfume das flores. De meninas tão leves e doces que venham com pedrinhas nas mãos - dizendo ser preciosas. De um chocalho, umas penas, alegrias e tendas. De colares, colores, olhares, manjares. Eu vi a luz hoje e me encantei como antes. Eu vi o azul da saia e a vida em avenidas e esquinas. Eu vi hoje a placa na rua que dizia "precisa-se de felicidade". E eu não escolhi o caminho da saudade. Nos pés, os chinelos batidos com pedrinhas brilhantes. Na bolsa, toda esperança querendo saltar pelas bordas. Eu vi o verde e meus olhos sentiram a falta da mãe. Do sal d'água que fica na pele e do sol queimando os cabelos na praia aberta. Sinto falta da saia rodada e dos panos enrolados no corpo. Sinto falta d'água na pele e o refresco d'alma. Veio o verão e já era tarde o pó de gelo abandonou os vidros da janela do quarto. Quero meu copo de gelo, com limão por favor.
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