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Epifanias

[Ler ouvindo Weyes Blood, Agnes Obel] Eu acredito que quando a gente rompe uma barreira na inércia da vida que a gente acha que é real, mas é Maya, quando a gente rompe com esse véu, essa névoa, tudo conspira e no s impulsiona como um vórtice feroz rumo ao nosso centro. E quando entramos em nosso eixo esse turbilhão que somos se alinha em inteireza e potência como partículas que se lembram de si, que como imã se unem. Reintegração. Desfolhamos o que foi, cada folha que brota e sai de dentro de nós extrai todo veneno de tempos vis, obscuros. Florescemos! Finalmente descascamos a película inexistente da ilusão, nos vemos nus. Tudo passa diante dos olhos, porque é o renascer. Vida-morte-vida. Pura vida! Regozijo, perfeição, fluxo perfeito! Um calor toma conta da minha face, meu corpo se desdobra em mil tecidos esvoaçantes, se libertando dos pesos que carreguei. Me perdoo, me compreendo, aceito, agradeço por toda podridão do submundo no qual rastejei tanto tempo. Anjos fragmentados de...

Lamento

Eu nunca tenho a dimensão correta das coisas, afetos, pessoas até que ocorra sua ausência.  Em minha humanidade, me vejo muitas vezes mais do que gostaria sendo egoista, reclamona, sentindo raiva e outros sentimentos nada nobres. Mas algumas pessoas, afetos, situações, me mostraram inúmeras vezes que também posso e sei ser generosa, amável, amiga, cuidadosa, carinhosa, altruísta.  É uma pena que certos sentimentos sejam acessados apenas em momentos de despedidas, em ausências. Nesses momentos, eu sinto a magia da vida que não cabe dentro de mim, que só consigo expressar em lágrimas. Porque eu choro pra tudo... Temo que a vida realmente seja mais curta do que dizem. Eu percebo tudo tão rápido e escorrendo como água em enxurrada. Meu coração chora partidas e ausências. Meu coração lamenta que a vida, muitas vezes, seja tão dura ou nos leve para caminhos tão distantes das pessoas que amamos. Crescer, viver, dói demais! Que a divindade se manifeste em todos os lugares e cure todas...
Eu mal tenho forças para existir, neste momento. O pouco sopro de vida que existe em mim se arrastou até esse teclado na tentativa de estancar a ( h) emo rragia* . Porque as emoções jorram, inundam meu entorno. Achava que chorar a ponto de babar, chorar com a bocarra escancarada, era coisa de filme ou novela, talvez. O berro simplesmente me escapa, não posso conter. Olho para as coisas em cima da mesa no ateliê e choro mais. Tantos projetos empoeirados, sonhos natimortos, uma vida na estante. O telefone não para, tanta urgência, demandas que caem como chuva na minha cabeça e nada mais é importante para mim agora. Repentinamente, mortos se levantam e me cobram lhes dar vida. Vivos se fazem mortos – para eles, foda-se a minha vida. O que importa para as pessoas é o quanto eu dou para elas. Não importa o quê. Meu tempo, dinheiro, meu corpo, minha atenção, minha ação... sinto que os vampiros modernos improvisam com aparatos para transfusão de sangue, de forma a garantir que extrairão t...
São 30 anos sem você. É inexplicável sentir 30 anos de dor por alguém com quem convivi apenas 10 anos da minha vida em uma fase da qual mal posso me lembrar das coisas que vivi. É curioso que eu não dê importância para retratos e o seu comigo seja o único exposto na minha sala. A ausência mais dolorosa, a saudade mais asfixiante, o choro mais sentido, soluçado, o mais visceral. Eu não quero acreditar no que diz o mundo: que é uma ferida infantil, que eu não tenho como dimensionar as coisas como realmente eram para comparar com o hoje, porque era uma criança e as lembranças não são confiáveis. Eu não posso acreditar nisso, simplesmente, porque essa é uma das raras verdades para mim. Ninguém pode me tirar isso. Ninguém tem esse direito. Eu, que já não tenho nada, não é justo que não possa cultivar esse jardim de flores mortas. Será que também é por isso que essa época de fim de ano fico sempre na bad de uma forma que parece inexplicavelmente desproporcional aos eventos? São muitas coisas...
Hoje acordei com a vivo me ligando depois de mais uma noite mal dormida, 3 dias sem internet, muitos protocolos e nenhum registro para assistência técnica, estresse, um final de semana sem tv, nem música, nem nada, trabalho atrasado, olheiras profundas, coluna travada. Ligue para a gestora da vivo. Para o técnico da vivo. Deixei recado pra ambos. Tomei banho enquanto o Lu no viva-voz tentava me passar as condições da internet da claro. Lu mal humorado, irritado. Lavei salada enquanto falava em outro número da claro. Almocei enquanto falava num 3º número da claro. Tenho que ir pessoalmente na claro, meu score de cpf está baixo, não posso fazer portabilidade por telefone. Oi? meu cpf tá em ordem há mais de 20 anos! Pesquiso no google, entre as opções "...se atrasou conta". ah, pago tudo antes! Mas mês passado atrasei 2 contas, porque não abri o e-mail por alguns dias, porque o Lu ia operar, eu precisava organizar tudo, dar conta de tudo e não dei, obviamente, segundo o score do...
A vida se desenrola em acontecimentos inesperados. Esse é o padrão. Tudo aquilo que pode mudar, irá mudar. Porque vida é movimento, como diz meu pai. A vida é essa oscilação constante, de natureza tortuosa, ora caótica, ora tranquila, caminhos ciclicamente intrincados. A morte é linha reta. O maior desafio da vida é a própria vida: tudo não passa de uma apresentação improvisada, sem ensaio, para se aproximar do equilíbrio - esse delicado ponto abstrato pelo qual vivemos e do qual a manutenção é utopia. Quando se pensa estar confortável, a vida vem turbulenta e nos sacode de modo que tudo que voa para o alto cai em lugares e de formas completamente diferentes. Não mais há tempo para memorizar, o tempo todo tudo muda e tudo é novo de novo. E esse eterno desconhecido é a perfeição que alimenta nossa evolução. As contradições ficam por conta do que aprendemos como bom e ruim. Do que entendemos por sucesso, felicidade... O cansaço faz parte e coexiste com a calma, a irritação e a tranquilid...
Ironia da vida, parece que eu tava adivinhando minha sina quando nomeei esse blog como "ajna, o espaço vazio" há muitos anos.