Eu mal tenho forças para existir, neste momento. O pouco sopro
de vida que existe em mim se arrastou até esse teclado na tentativa de estancar
a (h)emorragia*.
Porque as emoções jorram, inundam meu entorno. Achava que chorar a ponto de
babar, chorar com a bocarra escancarada, era coisa de filme ou novela, talvez.
O berro simplesmente me escapa, não posso conter.
Olho para as coisas em cima da mesa no ateliê e choro mais.
Tantos projetos empoeirados, sonhos natimortos, uma vida na estante. O telefone
não para, tanta urgência, demandas que caem como chuva na minha cabeça e nada
mais é importante para mim agora.
Repentinamente, mortos se levantam e me cobram lhes dar
vida. Vivos se fazem mortos – para eles, foda-se a minha vida. O que importa
para as pessoas é o quanto eu dou para elas. Não importa o quê. Meu tempo,
dinheiro, meu corpo, minha atenção, minha ação... sinto que os vampiros
modernos improvisam com aparatos para transfusão de sangue, de forma a garantir
que extrairão todo o sumo do meu ser até a última gota.
Hoje não tem verdura refogada, mensagem carinhosa, beijo
apaixonado, contribuição, soluções rápidas, alívio imediato. Hoje só tem cansaço,
dor, saco cheio, tristeza, desesperança e rancor. Porque eu sou gente e gente
sente tudo que é socialmente dito bonito e feio. Porque antes de ser animal
social, gente sente, é complexa.
Hoje eu só queria apagar as luzes da vida e não acordar mais
ou acordar em outro tempo, sintonizada em outra emoção. É que eu não sei o que
fazer com esse bolo preso na garganta. Então escrevo. Escrevo pra respirar.
*(h)emorragia – o jorro de emoções
Comentários