Ponto de partida: Martins Fontes com o Viaduto 9 de Julho, centro de São Paulo. Subi a Augusta em busca daquilo que namorava há um ano - Cadernos de Literatura Brasileira-Mario Quintana. Um dinheiro que eu nunca tive e que não tenho. Um investimento em palavras que dão forma àquele que me carrega ao sonhos. Àquele que carrego no ombro. Resolvi voltar para casa de ônibus para contemplar a decoração natalina da Avenida Paulista. Materiais reciclados no Conjunto Nacional, praxe. Brilho demais, dourado demais. Bonito e exagerado, como deve ser. Trânsito e o ar abafado que sufocava a garganta e empapava as roupas de suor. Sono e cansaço. Alívio. Confusão. Vidrar São Paulo nas lentes do óculos toda santa manhã por ruas cinzentas e recheadas de pessoas apressadas. Andar sobre o recorte entre a Xavier de Toledo e a Ladeira da Memória desviando das estacas que sangram a calçada e esticam fios para os ônibus elétricos. Dar bom dia ao vigia da biblioteca Mario de Andrade e respirar fundo o ar poluído no passeio entre as árvores como se fosse o mais puro e revigorante. Andava perdida e maravilhada. Simplesmente andava. E sorria solitária num mundo particular.
A arte de colher pedras preciosas
Às vezes precisamos de pessoas assim, que nos façam sentir a frescura do ar e o perfume das flores. De meninas tão leves e doces que venham com pedrinhas nas mãos - dizendo ser preciosas. De um chocalho, umas penas, alegrias e tendas. De colares, colores, olhares, manjares. Eu vi a luz hoje e me encantei como antes. Eu vi o azul da saia e a vida em avenidas e esquinas. Eu vi hoje a placa na rua que dizia "precisa-se de felicidade". E eu não escolhi o caminho da saudade. Nos pés, os chinelos batidos com pedrinhas brilhantes. Na bolsa, toda esperança querendo saltar pelas bordas. Eu vi o verde e meus olhos sentiram a falta da mãe. Do sal d'água que fica na pele e do sol queimando os cabelos na praia aberta. Sinto falta da saia rodada e dos panos enrolados no corpo. Sinto falta d'água na pele e o refresco d'alma. Veio o verão e já era tarde o pó de gelo abandonou os vidros da janela do quarto. Quero meu copo de gelo, com limão por favor.
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