Peguei carona até o meio do caminho. 9h24. Cedo. Atravessei a Xavier de Toledo, dei bom dia para A gari, pros guardas e O recepcionista. Guarda bolsa, pega carteirinha e RG. "Moça, onde fica literatura nacional, poesia?" Toca o celular. "Oi, é proibido falar ao celular". "Desculpe, não sabia". "É lei municipal". Ai, credo, tá bom! Já tinha desligado! Graciliano Ramos, uma aí que não sei quem é... Corro os olhos pelas estantes sem perder a noção da hora. Rubem Fonseca. Ah, sempre quis ler! Depois de 5 minutos levo 'O buraco na parede'.

O cara (moleque) que registra a saída do livro pergunta como se fala meu sobrenome e a origem. Puxa um papinho enquanto eu reparo num tufo de cabelo branco do lado da testa dele. "Boa leitura". A moça do guarda-volumes me deseja "uma ótima aventura". Ela não conhece a minha vida. Se bem que já foi mais emocionante, vamos admitir. Hall do prédio.

Chego na copa e começo o lava-e-corta de frutas. Enquanto comia as lâminas de maçã e pêssego a colega ao lado abria um iogurte. Pensei que isso tudo estava errado. Que jornalismo é esse em que as pessoas comem frutas e iogurte na redação? Quis descer no boteco-sujo pra ver se tinha alguma coisa mais absurda pra comer, como ovo colorido. Mas lembrei que a gastrite e a pindaíba não davam nem pra um ovo. Nem pra uma coxinha gordurenta. Aff, que fase! Pensei que tinha coisa melhor pra pensar e que fazia dias que eu não fumava um cigarrinho, desde a manguaçada de sexta. Penso que podia escrever algo melhor do que isso, mas que a emoção ultimamente se resume a frutas pela manhã e ouvir groselha à noite daquele povo da faculdade. Quer saber? Nada que uma noite bem dormida não resolva nessa minha velhice precoce. Porque, sério, pela primeira vez me sinto velha de fato. Medo.

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