Ando rodeada de sonhos desbotados, trôpegos e esfarrapados. Ando a passos apertados, como quem tem pressa e sonha à beça com as coisas simples da vida. Tenho as mãos crispadas pelas maldades que a vida trouxe atrelada às costas. Tenho os olhos num ponto longe que não se sabe onde se perdem sem alento ou qualquer vestígio de esperança. Mas no fundo a pupila dança, com imagens de salões alegres em que corpos bailam até as hora mais tardias. Eu tenho os pés mais leves que um sonhador pode ter. Pisados de nuvens e delícias que outrora se desfizeram sob seu rastro. Possuo o beijo de criança que aprende a gostar. De ternura e cor, sim, cor! As faces coradas em rouge carmim e a boca tão encarnada de boneca de porcelana. Ah, os saltos! Saltar poças d'água já não era tão divertido... Espelhar-se nelas por segundos e ultrapassar seus limites sem molhar os calcanhares. Nostalgia zonza de quando era criança e lambia colher de doce na panela que a mãe cozinhava. Catar pedrinhas no chão e encher os bolsos de jóias preciosas que ninguém havia de tocar. Ter tantos amigos! Todos eles formigas e tatus no jardim de roseiras altas e espadas-de-são-jorge. Hipnotizar com as cores dos móbiles e cristais à tardinha com o sol morno e preguiçoso. Pés descalços na sarjeta refrescando n'água que o vizinho lavava a calçada. Água brilhante, bonita. O vento varria os problemas e as tristezas para quem era criança. Brincava de dança com meu vestido florido.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

De-sa-ba-fo

Presença