Ultimamente leio muitas coisas e não leio nada. Tanto blablá, tanta farofada em meio às palavras me deixam cansada. Falta-me um bom livro, daqueles gordos, os que param em pé na estante, entende? Mentira. Até leio uns muito bons. Larguei Clarice ao meio para ler um para a faculdade. Bom, mas prefiro a leveza e a profundidade das palavras de Clarice. Gosto do modo como ela sangra as palavras. Como as faz contorcer e gotejar o saber do mundo. O mal é que leio demasiadamente devagar. Me demoro meses num livro. O bom é que leio sempre mais de um. Uns quatro ao mesmo tempo. Assim se faz um suspense, como quem assiste a várias novelas ao mesmo tempo e tem de esperar pelo próximo capítulo. O que não entendo é essa gente que lê em dois dias ou como dizem "numa sentada". Ah, não! Pra mim não serve! Tenho de saborear as palavras, voltar uma página atrás, estudar o ritmo. Sentir o autor resfolegar. E faço pausas graves para ruminar o que foi lido. Pausas para sonhar. Numa sentada não se faz isso. É como engolir um prato delicioso e extremamente quente sem apreciar seu sabor. E ainda corre-se o risco de queimar a língua. Sim, porque imagine você que eu vá erguer meu topete para falar um 'a' sobre aquilo que mal degluti. Bem, o caso é que sinto falta daquelas tramas massudas e encarnadas. Sinto falta de algo como 'Werther' ou 'Memórias do Subsolo'. Da loucura, do limite. A ausência da crueza me deixa a vida insípida. Eu também escrevo, mas tenho o feito pouco. É que a cabeça não anda boa. Andei escrevendo umas coisas, mas ao ler pensei ser impublicável. Porcaria, delírio. Ando meio fora do tom, entende? Muita coisa mexeu com minha cabeça nos tempos últimos e ficou um laivo de sei-nem-o-quê que, tenho certeza, foi o mesmo problema que me afetou a ler menos. Também perdi a inspiração para ouvir música. Já viu isso? Nem eu. Mas quando acontece você simplesmente sabe. Ouço quase nada que me agrada. Agora mesmo estou ouvindo Bowie. Ah, ele me agrada, sim. Muito. É que não é o momento. Estou me empapuçando de Nina Simone há meses. Nina traz uma paz, vou te contar. Ninguém mais superou, desde então... Bom, agora vou deixar de tamborilar essas teclas e voltar à leitura de um conto. Quem sabe o autor me inspire de onde está.

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