É assim. Eu tenho um movimento rígido, um reflexo de defesa quase que constante. E não é só com você. É um instinto-louco-absinto e incontrolável. E quando você chega perto ele apita como um alarme de perigo para que eu saia em fuga. Uma mensagem, um signo me diz que você é cobiça proibida. Abraço o espaço vago. Então eu bebo o que está no meu copo e acendo um cigarro pra viabilizar a noite. E se eu tremo é de frio e de medo. E se eu tenho esse olhar torto de palhaço triste é porque meu coração não resiste a mais uma comédia. Entre todas as suposições aceito essa: não sei mais como conviver a dois. A desculpa é que quando você amadurece as manias são quase impossíveis de abandonar e quem consegue ficar com alguém cheio de manias? Manias são irritantes. Por isso escolho as manias e talvez nos encontremos em outra vida, outros corpos. De tantos modos que não sei precisar.
A arte de colher pedras preciosas
Às vezes precisamos de pessoas assim, que nos façam sentir a frescura do ar e o perfume das flores. De meninas tão leves e doces que venham com pedrinhas nas mãos - dizendo ser preciosas. De um chocalho, umas penas, alegrias e tendas. De colares, colores, olhares, manjares. Eu vi a luz hoje e me encantei como antes. Eu vi o azul da saia e a vida em avenidas e esquinas. Eu vi hoje a placa na rua que dizia "precisa-se de felicidade". E eu não escolhi o caminho da saudade. Nos pés, os chinelos batidos com pedrinhas brilhantes. Na bolsa, toda esperança querendo saltar pelas bordas. Eu vi o verde e meus olhos sentiram a falta da mãe. Do sal d'água que fica na pele e do sol queimando os cabelos na praia aberta. Sinto falta da saia rodada e dos panos enrolados no corpo. Sinto falta d'água na pele e o refresco d'alma. Veio o verão e já era tarde o pó de gelo abandonou os vidros da janela do quarto. Quero meu copo de gelo, com limão por favor.
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