Hoje o dia foi de um cinza indescritível. Improdutivo, jogado fora, inútil. As árvores altas que recortavam a massa cinzenta do céu traziam à tona toda dor e sensação de sufocamento. Hoje foi difícil lidar com ela. Pensar um jeito de assimilar a vida, assim como o álcool auxilia na assimilação do floral. Uma inquietação que faz os dedos trocarem as letras, a cabeça girar e a visão flou. Acalmar? Só quando Ella me Nina. Me sinto culpada o tempo todo. Culpada por muito que nem me pertence e duplamente culpada pelo que deixei de lado. Se as pessoas pudessem entender, saber... Como é difícil conviver com ela. O quanto nos batemos todos os dias nessa luta absurda. Não queria chorar, não queria ser fraca assim. Mas em certas horas, quando nos vemos completamente sós, fica complicado assumir uma postura rígida de vencedor. E eu recorro às minhas divas como um momento de prece e desabafo. Tentando me incluir novamente nesse mundo.
A arte de colher pedras preciosas
Às vezes precisamos de pessoas assim, que nos façam sentir a frescura do ar e o perfume das flores. De meninas tão leves e doces que venham com pedrinhas nas mãos - dizendo ser preciosas. De um chocalho, umas penas, alegrias e tendas. De colares, colores, olhares, manjares. Eu vi a luz hoje e me encantei como antes. Eu vi o azul da saia e a vida em avenidas e esquinas. Eu vi hoje a placa na rua que dizia "precisa-se de felicidade". E eu não escolhi o caminho da saudade. Nos pés, os chinelos batidos com pedrinhas brilhantes. Na bolsa, toda esperança querendo saltar pelas bordas. Eu vi o verde e meus olhos sentiram a falta da mãe. Do sal d'água que fica na pele e do sol queimando os cabelos na praia aberta. Sinto falta da saia rodada e dos panos enrolados no corpo. Sinto falta d'água na pele e o refresco d'alma. Veio o verão e já era tarde o pó de gelo abandonou os vidros da janela do quarto. Quero meu copo de gelo, com limão por favor.
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