Os dias estão muito nublados. Eu ando pelas ruas como se fosse um espectro maldito. Compro livros que nunca vou ler, filmes que nunca vou assistir. Durmo o dia inteiro e passo as noites insone procurando um sentido pra tudo isso. Lembro dos anos idos de minha infância e a única memória latente é a do medo. As pessoas ficam achando isso ou aquilo de mim, mas não sabem nada. Eu olho no espelho e só vejo aquela menina assustada com quatro, dez ou quinze anos. Refaço cenas em minha cabeça, repasso o filme da minha vida. O que está errado? Como aquelas pessoas conseguem? São burras ou o quê? Por que tudo parece tão caótico, dolorido e inútil? Eu quero, meu Deus, entender como tudo isso se dá. Quero demais.
A vida se desenrola em acontecimentos inesperados. Esse é o padrão. Tudo aquilo que pode mudar, irá mudar. Porque vida é movimento, como diz meu pai. A vida é essa oscilação constante, de natureza tortuosa, ora caótica, ora tranquila, caminhos ciclicamente intrincados. A morte é linha reta. O maior desafio da vida é a própria vida: tudo não passa de uma apresentação improvisada, sem ensaio, para se aproximar do equilíbrio - esse delicado ponto abstrato pelo qual vivemos e do qual a manutenção é utopia. Quando se pensa estar confortável, a vida vem turbulenta e nos sacode de modo que tudo que voa para o alto cai em lugares e de formas completamente diferentes. Não mais há tempo para memorizar, o tempo todo tudo muda e tudo é novo de novo. E esse eterno desconhecido é a perfeição que alimenta nossa evolução. As contradições ficam por conta do que aprendemos como bom e ruim. Do que entendemos por sucesso, felicidade... O cansaço faz parte e coexiste com a calma, a irritação e a tranquilid...
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