A chuva lava as lamentações. Lava o apego e o grosseiro desespero. A chuva conta os pingos das lágrimas nas telhas. O dia amanhece cinza e os olhos enevoados de apatia. Tempo. O tempo engana a gente. Pergunto ao meu café: onde foi que me perdi? Onde... foi... que enfiei meus sonhos e desejos. Meus desajeitados anseios? Tenho medo disso. E o medo congela. Então eu corro, corro e, quando paro, tenho a sensação de que corri em vão. E quando a gente corre, corre e o tempo passa e a gente se vê no mesmo lugar, só que mais sozinho? Mais escuro. Fecho os olhos e visualizo o sol que não está lá. Fecho e não quero mais abrir.
A arte de colher pedras preciosas
Às vezes precisamos de pessoas assim, que nos façam sentir a frescura do ar e o perfume das flores. De meninas tão leves e doces que venham com pedrinhas nas mãos - dizendo ser preciosas. De um chocalho, umas penas, alegrias e tendas. De colares, colores, olhares, manjares. Eu vi a luz hoje e me encantei como antes. Eu vi o azul da saia e a vida em avenidas e esquinas. Eu vi hoje a placa na rua que dizia "precisa-se de felicidade". E eu não escolhi o caminho da saudade. Nos pés, os chinelos batidos com pedrinhas brilhantes. Na bolsa, toda esperança querendo saltar pelas bordas. Eu vi o verde e meus olhos sentiram a falta da mãe. Do sal d'água que fica na pele e do sol queimando os cabelos na praia aberta. Sinto falta da saia rodada e dos panos enrolados no corpo. Sinto falta d'água na pele e o refresco d'alma. Veio o verão e já era tarde o pó de gelo abandonou os vidros da janela do quarto. Quero meu copo de gelo, com limão por favor.
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