A chuva lava as lamentações. Lava o apego e o grosseiro desespero. A chuva conta os pingos das lágrimas nas telhas. O dia amanhece cinza e os olhos enevoados de apatia. Tempo. O tempo engana a gente. Pergunto ao meu café: onde foi que me perdi? Onde... foi... que enfiei meus sonhos e desejos. Meus desajeitados anseios? Tenho medo disso. E o medo congela. Então eu corro, corro e, quando paro, tenho a sensação de que corri em vão. E quando a gente corre, corre e o tempo passa e a gente se vê no mesmo lugar, só que mais sozinho? Mais escuro. Fecho os olhos e visualizo o sol que não está lá. Fecho e não quero mais abrir.
A vida se desenrola em acontecimentos inesperados. Esse é o padrão. Tudo aquilo que pode mudar, irá mudar. Porque vida é movimento, como diz meu pai. A vida é essa oscilação constante, de natureza tortuosa, ora caótica, ora tranquila, caminhos ciclicamente intrincados. A morte é linha reta. O maior desafio da vida é a própria vida: tudo não passa de uma apresentação improvisada, sem ensaio, para se aproximar do equilíbrio - esse delicado ponto abstrato pelo qual vivemos e do qual a manutenção é utopia. Quando se pensa estar confortável, a vida vem turbulenta e nos sacode de modo que tudo que voa para o alto cai em lugares e de formas completamente diferentes. Não mais há tempo para memorizar, o tempo todo tudo muda e tudo é novo de novo. E esse eterno desconhecido é a perfeição que alimenta nossa evolução. As contradições ficam por conta do que aprendemos como bom e ruim. Do que entendemos por sucesso, felicidade... O cansaço faz parte e coexiste com a calma, a irritação e a tranquilid...
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