Procedimento trata doença pulmonar com anestesia local. Essa era a manchete que eu lia enquanto tentava digerir aquilo tudo. O café frio, a revelação, o frio que travava os dedos das mãos impedindo-os de articular agilmente. Entre uma notícia e outra, náusea. Tontura e calafrios. Não, não poderia estar acontecendo de novo. Não comigo, não da mesma forma. Comecei a acreditar piamente que eu é que causava esse tipo de reação. Ou talvez fosse uma inversão de papéis: o troco por ter agido assim no passado. Mas que culpa tenho eu? Por um lado é completamente claro, fácil de entender, devido às circunstâncias. Por outro, não desce nem com água. Procuro não penetrar profundamente em uma meditação sobre e me enfiar no trabalho. Não dá. Saio para ventilar o pensamento, a massa cinzenta do céu, o ar tão gélido quanto meus sentimentos... Ou quem sabe o estado de choque confundisse minhas sensações – um misto de dor-de-barriga, vontade de chorar e superação constante que triunfava com efeito de frases de auto-ajuda. Eu, uma tira de gente lançada nesse mundo pérfido, procurando me orientar a cada golpe que recebia. Nem toda a força do mundo poderia personificar o que sinto. Nem Mozart poderia compor melodia tão insuportável em sua dor e angústia. Meus olhos me traem. O aguaceiro ameaça e logo o contenho com um senso de localização que alarma ao lembrar que estou em uma sala repleta de colegas de trabalho. Mensagem nenhuma pois foi-me endereçada após a derradeira (que quase me nocauteara). Agora é respirar fundo, contar até mil e esperar da única forma que meus instintos conhecem: no desespero e na ansiedade doentia.

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