Ela encosta o rosto na almofada macia e fecha os olhos para ouvir com precisão os sons. Sem distrações. Sem distorções. A tensão de cada tecla do piano, como um tendão a vibrar. A imagem composta em sua cabeça de dedos correndo ávidos por sons mutantes, delicados. Som crescente. Música. É como se massageassem seu coração já tão batido feito bife. Segue a linha da lógica e lembra-se de que bifes são temperados após martelados. Há de chegar a hora do sabor - pensa ela. E enquanto isso sonha, sonha o mais alto que pode. E sorri. E chora. Olha para as mãos com dedos finos e compridos. Analisa cada dedo. A cor que escolheu para as unhas, esta semana. Azul! Azul tinta de caneta. Para nunca esquecer que é dos dedos que fluem as palavras e não da ponta da língua. Eles imprimem as letras, impedindo que estas morram na saliva, sem uma nova chance de renascimento. Marcam com o fogo da vida as impressões de cada fagulha de emoção. De cada... Emoção...

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