Eu já vi as costas da Morte e não gostei. Senti suas mãos frias no meu peito e um aperto no coração, uma falta de ar... morri. Não. Foi por pouco. Na parede do metrô Conceição aqueles versos queridos:

"Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor."*

Tirei a jaqueta e deixei que o vento gélido cortasse meu corpo. Caminhei resoluta contra ele, passei por uns caras no vão do metrô, lá sempre rola um street dance. Ao subir a escada e mirar a avenida Jabaquara, percebi que o ar úmido e todas aquelas pessoas indiferentes potencializavam minha melancolia. O que queria? Quereria? Ah! As folhas se atirando, suicidas, as pobrezinhas... Amarelecidas como meus sonhos... Eu pensava longe. Deveria pegar o trem para a cidade ao lado, mas era impulsionada em outra direção. Impelida a escrever, aqui, agora, estes relatos doridos e descascados. Sim, descascados. É que já não sei mais passar aquele verniz bonito que disfarça os arranhões. Olha, faz o seguinte... eu estou atrasada, depois continuo. Agora preciso viver um pouco. Até.

*Fernando Pessoa

Comentários

Mário Liz disse…
eu quero passar ... quero passar ... com a minha dor...

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