Im-pas-se. Sempre me colocam no meio fio. Ou eu me coloco? Não quero pensar nisso. Se me tocassem nos momentos difíceis, saberiam que estou morta. Se verificassem meus sinais vitais, quando do comportamento atônito, o olhar profundo e distante, saberiam que estou morta. A carne trêmula, alva, posta num vestido vermelho. As faces cheias de incertezas e inquietações, que só alguém muito astuto poderia perceber a ausência na vontade de viver. A tristeza. A irritabilidade por ter que suportar mais um dia entre tantos outros banais e idiotas. Pudera eu chegar lá com um frêmito de vida na ponta dos lábio e soprar as mesmas palavras de Beckett: "Antigamente eu não sabia aonde estava indo, mas eu sabia que ia conseguir, sabia que ia haver um fim na longa estrada cega. Quantas meias-verdades, meu Deus". Eu queria chegar, quero, apesar de tudo e sentir que pelo menos cumpri o mínimo do proposto - suportar o insuportável. No mais, tudo está igual.
A vida se desenrola em acontecimentos inesperados. Esse é o padrão. Tudo aquilo que pode mudar, irá mudar. Porque vida é movimento, como diz meu pai. A vida é essa oscilação constante, de natureza tortuosa, ora caótica, ora tranquila, caminhos ciclicamente intrincados. A morte é linha reta. O maior desafio da vida é a própria vida: tudo não passa de uma apresentação improvisada, sem ensaio, para se aproximar do equilíbrio - esse delicado ponto abstrato pelo qual vivemos e do qual a manutenção é utopia. Quando se pensa estar confortável, a vida vem turbulenta e nos sacode de modo que tudo que voa para o alto cai em lugares e de formas completamente diferentes. Não mais há tempo para memorizar, o tempo todo tudo muda e tudo é novo de novo. E esse eterno desconhecido é a perfeição que alimenta nossa evolução. As contradições ficam por conta do que aprendemos como bom e ruim. Do que entendemos por sucesso, felicidade... O cansaço faz parte e coexiste com a calma, a irritação e a tranquilid...
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