A última vez que chorei, meu amor. E foi há tanto tempo que há areia em meus olhos. A vida como música numa vitrola a rodar sob a ponta d'agulha. O fio fora da tomada. Um jazz, um blues tão blue, tão down. Romantic. So sad and lovely, como Stormy Weather na voz de Etta James. Que voz! Ou como Astrud em Desafinado. Ou ainda Dream a Little Dream of Me, com a doce Ella. Ah, Petula Clark, Peggy Lee, Billie Holiday, Janis Joplin, Beth Gibbons, Fionna Apple, Madeleine Peyroux, Nina Simone... Eu poderia citar muitas aqui... São tantas em mim. São tantas dores e amores. Pouca carne para tanta alma. Corpo, esse limite que aborta os sonhos, que suplanta as vontades. Frágil cápsula, jugo dos românticos, mortalha das ilusões... Eu, vítima das minhas pirações, refém das mesas de bar, romântica incurável, pensei estar incólume à loucura. Mas nem só de amor e de pecados se alimenta uma pobre alma. É como queimar a boca com leite quente: dói muito na hora, permanece doendo por alguns dias e, durante esse tempo, você não sente o gosto de nada.
De-sa-ba-fo
Eu tenho uma condição de saúde rara parcialmente identificada que me causa incontáveis problemas de saúde. O fato de eu estar bem, sorrindo alegre e confiante em um dia e em outro péssima, ausente, irritada e deprimida, é um reflexo disso. Essa mudança é brusca para quem vê de fora, para mim é normal. Sempre ouvi: "Nossa, você está sempre doente." "Seu humor muda do nada, o que acontece?" "Você precisa se controlar/ deixar de ser assim/ ter mais fé/ se cuidar/ reclamar menos, não ficar falando sobre essas coisas negativas etc. etc." Eu fiz muita terapia para chegar aqui nessa mensagem e dizer tudo isso. Eu agradeço a quem se preocupa e me contata perguntando como estou, se melhorei, me deseja melhoras. Mas, o fato, é que eu não tenho perspectiva de melhora e confesso que me angustia não ter uma resposta simples ou positiva para dar. E eu cansei de tentar disfarçar meu mal estar, como se nada estivesse acontecendo. Porque cada vez que me perguntam co
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