Hoje saímos meu all star, meu sobretudo, minha bolsa psicodélica e eu, além dos apetrechos que me acompanham todos os dias. Fui levar o livro que a Lú me emprestou, a propósito, ajudou muito viu, Lú. Nem deu tempo de conversarmos e eu agradecer o quanto queria. A sangue frio, de Trumman Capote. Muito bom esse livro. Fantástico, eu diria. Entrei novamente naquele lugar que me traz indiferença, agora, e sinto que nem quero voltar tão cedo por lá. Voltei com a Vi. Conversamos sobre as coisas...Ai, que saudades dos meus amigos! É tão ruim não tê-los por perto, como antes. Estávamos voltando para casa e pensando na vida. Então decidimos – meu all star e eu – saltitar pela calçada esburacada, driblando as imperfeições. Passei pela casa dele e pensei que seria legal se nos víssemos. Mas eu seria somente um corpo frio interagindo com ele, minha cabeça flutuava...Ergui a cabeça num gesto tedioso e percebi o céu vermelho, não sei se gosto ou desgosto dele assim. Mas, ultimamente, esse céu vermelho aparece nos dias difíceis. Entrei em casa e vi que estava tudo colorido, como sempre. Minha mãe é colorida. Ela deixa tudo tão brilhante e tão vistoso e é tudo tão cheiroso, que me sinto deslocada. Ainda assim, pra mim é tudo preto-e-branco. Cheguei, larguei meu guarda-chuva e aqui estou. Esfomeada por comida e por palavras. Escolhi matar o segundo. Acho que vou descer e comer algo, agora. Meu all star e eu estamos muito cansados de perambular e pensar nesta vida...Quem sabe, uma cerveja fosse bom...Mas eu trabalho amanhã...
A arte de colher pedras preciosas
Às vezes precisamos de pessoas assim, que nos façam sentir a frescura do ar e o perfume das flores. De meninas tão leves e doces que venham com pedrinhas nas mãos - dizendo ser preciosas. De um chocalho, umas penas, alegrias e tendas. De colares, colores, olhares, manjares. Eu vi a luz hoje e me encantei como antes. Eu vi o azul da saia e a vida em avenidas e esquinas. Eu vi hoje a placa na rua que dizia "precisa-se de felicidade". E eu não escolhi o caminho da saudade. Nos pés, os chinelos batidos com pedrinhas brilhantes. Na bolsa, toda esperança querendo saltar pelas bordas. Eu vi o verde e meus olhos sentiram a falta da mãe. Do sal d'água que fica na pele e do sol queimando os cabelos na praia aberta. Sinto falta da saia rodada e dos panos enrolados no corpo. Sinto falta d'água na pele e o refresco d'alma. Veio o verão e já era tarde o pó de gelo abandonou os vidros da janela do quarto. Quero meu copo de gelo, com limão por favor.
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