Espremer a ferida até que todo sangue e pus saia. Dar vazão aos sentimentos de libertação. À libertinagem. À pilantragem. Quero uma corda para me pendurar e sair planando pelos corredores extensos desse medo, dessa loucura. Meus delírios aparecem em público. Minhas manhas se expõem sem pudor numa bacia d'água fria com a pele enrugada. Quantas garrafas é preciso para perceber além da matéria? Eu tenho vivido em baixa resolução por atrevimento. Tenho me servido das mais fétidas e das mais refinadas sensações. Sigo extirpando a dor como quem empurra calmamente a cutícula para removê-la. Da inflamação de nervos insones, os desejos mais atrozes contra a ignorância e a futilidade diárias. Pudera eu arrotar um grito bem na cara dos fantoches purpurinados e indecentes. Pudera eu enroscá-los em suas próprias cordas para que deixassem minha vida em mim. Eu não quero muito mais que o essencial. Eu só quero as fragrâncias de jardins verdes e a paz que neles se estabelece. Ouvindo Etta James num circuito letras-música-pãodequeijo e o estômago aflito se retorcendo por provações futuras. Noturnas. Sem a paciência necessária, deixo aqui as frases inacabadas de uma mente febril.
A arte de colher pedras preciosas
Às vezes precisamos de pessoas assim, que nos façam sentir a frescura do ar e o perfume das flores. De meninas tão leves e doces que venham com pedrinhas nas mãos - dizendo ser preciosas. De um chocalho, umas penas, alegrias e tendas. De colares, colores, olhares, manjares. Eu vi a luz hoje e me encantei como antes. Eu vi o azul da saia e a vida em avenidas e esquinas. Eu vi hoje a placa na rua que dizia "precisa-se de felicidade". E eu não escolhi o caminho da saudade. Nos pés, os chinelos batidos com pedrinhas brilhantes. Na bolsa, toda esperança querendo saltar pelas bordas. Eu vi o verde e meus olhos sentiram a falta da mãe. Do sal d'água que fica na pele e do sol queimando os cabelos na praia aberta. Sinto falta da saia rodada e dos panos enrolados no corpo. Sinto falta d'água na pele e o refresco d'alma. Veio o verão e já era tarde o pó de gelo abandonou os vidros da janela do quarto. Quero meu copo de gelo, com limão por favor.
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