Dia nebuloso. Névoa esbranquiçada e um cheiro de chuva no ar. O coração socando o peito de tanto se exaltar. O tempo não como medida para viver, mas uma atrocidade febril a dilacerar os nervos. Os prazos se esvaindo como areia numa ampulheta, folhas caindo para sinalizar a velocidade. Um acúmulo de sentimentos diversos num único peito cansado. Pensamentos loucos dançando no espaço turbulento da mente. No emaranhado de outros pensamentos velhos deixados de lado por falta de tempo. Dedos que não articulam direito de tanta exaustão.O corpo pesado. Passos arrastados. O mundo gira numa velocidade distinta. Num espaço que não é o meu. As coisas sempre muito fora do alcance pedindo para que eu me estique um pouco mais para pegá-las. Eu abro os olhos pela manhã e vejo uma carreira deles. Problemas. Insatisfações. Sempre esse drama. Uma coleção, quase uma compilação segmentada deles. Tantas ondas sufocantes imprensadas na garganta. Só há um meio de dar certo e a escolha é liderada pelo livre arbítrio, pela consciência. Os nós que prendem minhas mãos apertam demais, mas mesmo assim eu consigo usar outras partes de mim. Empenho todo meu ser nessa jornada vital. Num mundo que paramos para pensar se vale a pena. Com tanta guerra e fome, ganância e ingratidão. Onde a medida não tem parâmetros. Onde um pedaço de pão pode valer muito ou nada. Vivo aterrorizada pela mediocridade das pessoas. Por minha própria. Afinal, não é tão difícil se contaminar pela bactéria da futilidade, da arrogância. Mas é isso aí, uma luta constante contra seu eu de um lado e seu eu do outro. Eu não quero mais entupir minha vida, não quero congestionar os únicos meios de que disponho para continuar sóbria. Mesmo imersa nessa loucura. Vou desenterrar as asas das costas e voar. Para onde achar que devo. Sem me importar com convenções da chamada civilização. Necessidade extrema de abraçar os joelhos e chorar. Até os olhos arderem. Até secar. Mas não dá tempo...E de tudo que resta para me oferecer umas doses de felicidade, está você. Esse ser que apareceu numa calçada da Paulista. Com uma força já me puxando pra ir até lá. E eu nem percebi que a vida me dava um presente. O mais bonito, aquele que me acalma. Me faz sentir que posso ser melhor. Que as coisas podem ser melhores. E eu só quero retribuir essa sensação. Essa condição.

Comentários

Anônimo disse…
me descuuulpa, mas ainda não consegui perceber quem é você...

:P

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